segunda-feira, 4 de maio de 2015

"Estou pensando em como
As pessoas se apaixonam de maneiras misteriosas
Talvez apenas com o toque de uma mão..."
— Thinking Out Loud (Ed Sheeran)



Quando o sol nasce geralmente é hora de deitar em qualquer grama, qualquer sofá, qualquer cama e dormir até as cinco da tarde.
Mas o sol nasceu lá fora e a festa continuou a todo vapor, eu não estava cansada, as garotas não estavam cansadas, ninguém estava cansado, então nós continuamos até o sol se pôr, e até o sol nascer novamente.
A cerveja e a vodka não acabavam nunca, as luzes não paravam de piscar nem quando a luz solar invadia a casa, os rapazes não paravam de dançar nem quando os vizinhos gritavam.
Foi a festa mais duradoura que já vi na vida, durou exatamente 48 horas, eu bebi até cair, fui levada ao hospital em coma alcoólico, mas sobrevivi e presenciei uma festa mais duradoura ainda, de 72 horas, essa foi a minha perdição completa, quase morri de tanto beber, mas vaso ruim não quebra.
Liam estava vermelho de raiva quando entrou no quarto do hospital e me viu com duas agulhas na veia, uma puxando sangue, outra para enviar soro.
Ele largou uma mochila no sofá ao canto da parede e cruzou os braços ao olhar para mim, ele estava tão bravo, aquilo era divertido. Ainda meio grogue eu abri um sorriso perverso para ele, o que o irritou mais ainda.

— Você vai pra reabilitação — ele disse simplesmente, meu sorriso desapareceu.
— Essa história de novo, Liam? Eu não vou a lugar nenhum — resmunguei sonolenta.
— Ah, vai sim. Ou vai pra reabilitação ou vai sair da minha casa. Eu não quero mais ter que me preocupar com você, Avanna — falou Liam, sua voz gélida como o Alasca.
— Tudo bem, eu saio da sua casa — murmurei indiferente, já imaginando voltar para os meus pais.
— Ótimo, mas lembre-se, não vá procurar nossos pais, já os induzi a não ajudá-la. Você está por contra própria, Ava, está na hora de crescer — falou secamente, ele me lançou um último olhar decepcionado e saiu do quarto, deixando a mochila no sofá.
— Bem, acho que estou fodida — resmunguei para mim mesma.


              Recebi alta no fim do dia, na mochila que Liam deixara havia roupas para mim, eu me troquei e saí do hospital o mais rápido que pude, odeio hospitais.
Como eu estava sem dinheiro, peguei um ônibus até a casa dos meus pais com o pouco dinheiro que me restava, bati na porta e demorou uma eternidade até minha mãe atender, ela ficou séria ao me ver, então eu percebi que estava brava.

— Desculpe querida, aqui não há nada para você — disse minha mãe, eu fiquei boquiaberta, surpresa com toda a sua indiferença.
— Mamãe... — choraminguei, ele fechou os olhos e virou o rosto, não conseguindo me encarar.
— Tome o seu rumo, cuide-se, arrume a sua vida, Avanna, nós cansamos de tentar concertá-la para você — falou secamente, meus olhos lacrimejaram.
— Tudo bem — sussurrei melancólica.

Me afastei da porta e minha mãe a fechou depois de me lançar um olhar tristonho, mas determinado.
Encarei a porta atônita por alguns segundos, até perceber que era real, meus pais estavam me virando as costas, assim como meu irmão. O que vai ser de mim agora?
Agarrei forte as alças da mochila de Liam e segui caminhando rua abaixo, não tinha mais dinheiro para ônibus, muito menos para táxi, e eu ainda tinha uns 15 km até à casa de Liam; eu precisava começar a andar.
A noite escura apagava toda a segura claridade que ainda me mantinha sã e parcialmente calma, o apartamento de Liam estava silencioso e eu não consegui criar coragem suficiente para tocar a campainha, não depois de ter a porta da casa dos meus pais fechada em minha cara. Mas eu precisava pegar minhas coisas.
Toquei a campainha uma vez e esperei pacientemente, ouvi a tranca ser aberta e Liam apareceu à minha frente, ele estava sério e bravo, ainda bravo.

— Eu... Hum... Vim buscar minhas coisas — murmurei envergonhada, Liam balançou a cabeça e me deu passagem para entrar.
— Separei uma mala com a suas coisas, estão na sala de estar — falou ele, fechando a porta atrás de mim e apontando para que eu seguisse em frente.

Ao chegar na sala eu vi uma grande mala roxa, a minha mala, ela estava tão cheia que parecia querer explodir, mas mesmo assim eu tenho certeza que não coube todas as minhas coisas ali, somente o necessário, o que me deu certo alívio.
Segurei a alça da mala e a puxei, Liam estava me observando atentamente, eu não o encarei.
Puxei a mala até a porta da frente e, em um impulso repentino, virei-me para Liam, ele parou abruptamente atrás de mim e olhou-me determinado.

— O que eu vou fazer, Liam? — perguntei exasperada. — Não tenho nem aonde dormir!
— Maninha, sinto muito, você vai me odiar. Mas vire-se, tá bom? Só não adianta procurar seus amigos ou os meus, eles também foram instruídos a não te ajudar — falou Liam, evitando olhar-me nos olhos.
— Tudo bem, vou passar à noite embaixo da ponte, se amanhã eu aparecer esquartejada ou assassinada, bem, então conviva com a sua culpa — vociferei irritada e me apressei a sair do apartamento puxando a mala.

Liam parou no vão da porta e me assistiu marchar para o elevador; enquanto esperava a porta se fechar eu evitei olhá-lo, estava puta da vida e daria um gelo nele pelo resto da minha vida.
Ao sair do prédio aonde Liam mora eu fui recebida por um golfo de ar frio e forte, os pelos dos meus braços se eriçaram e eu fiquei tentada a pegar um casaco em minha mala.
Me sentei no parapeito da calçada e respirei fundo, tentando recuperar a calma e pensar em algo para fazer, então meu celular começou a apitar e eu abri a nota de aviso.
"Competição na SaintFor."
Rapidamente me pus de pé e comecei a caminhar, arrastando minha mala junto, em direção à academia de dança SaintFor.
Eu faço aulas de dança lá desde pequena; balé, hip-hop, qualquer tipo de dança; mas acho que não faço mais, pois Liam pagava a mensalidade das aulas, agora que ele me deserdou eu não tenho dinheiro para continuar na SaintFor.
Ainda bem que a academia não fica muito longe, tive que andar por uns 10 minutos, então parei na recepção e Ellie, a recepcionista, me cumprimentou sorridente, mas seu sorriso desapareceu ao me ver tão irritada.

— Tudo bem, Ava? — perguntou Ellie.
— Arr... Meu irmão me expulsou de casa, agora eu preciso me virar. Mas sem problemas, agora eu só preciso ensaiar um pouco, posso entrar de fininho? — perguntei fazendo um charminho, ela sorriu.
— Claro que pode, use o armário de vassouras para guardar a mala — concordou ela apontando para a minha mala.
— Obrigada, Ells, você é incrível — guinchei feliz e a abracei rapidamente, ela riu.

Me apressei pelo corredor e na primeira porta de um almoxarifado que encontrei eu entrei, escondi minha mala entre algumas pilhas de papel higiênico e voltei para o corredor, então fui procurar uma sala vazia para ensaiar, mas todas estavam ocupadas por casais ou dançarinos solos que iriam participar do concurso.
Mas eu me detive em uma das salas quando vi um casal em especial dançando.
O casal dançava com toda a alma, era bonito, mas era evidente que não havia química alguma entre eles, eles dançavam para si mesmos e esqueciam que eram um casal.
A dança era bonita, bem coreografada e cheia de detalhes simples e bonitos, mas eles não se entrosavam de maneira alguma, fiquei irritada só de assisti-los, então, quando a garota se irritou, eu agradeci por eles terem parado de estragar a linda dança.

— Meu Deus, isso não está certo, chega, não vou participar disso. Nós não damos certo — reclamou ela, se afastando do rapaz e juntando suas coisas.
— Você vai me deixar na mão? Temos 30 minutos até a nossa vez e você vai embora? O que eu vou fazer? — queixou-se o rapaz, ficando ligeiramente irritado e preocupado.
— Se vira. Desde o começo eu percebi que não daria certo, agora eu não posso subir ao palco e estragar a minha reputação dessa forma, desculpe — falou ela, então virou as costas e sumiu, o rapaz se sentou no meio do salão e escondeu o rosto nas mãos, fiquei com dó dele.

Depois de pensar seriamente por alguns segundos, eu andei lentamente para dentro da sala e, silenciosamente, tirei minhas botas e o cardigan. Liguei o rádio, a linda música começou a tocar, o rapaz levantou o rosto e olhou em volta, procurando quem havia ligado o rádio, então ele me viu e me encarou curioso.
Me alonguei sem encará-lo e ensaiei alguns dos passos que eles haviam dançados juntos, o rapaz se pôs de pé e estudou-me atentamente, assistindo-me dançar a coreografia dele, então, por fim, ele me tomou em seus braços e nós ensaiamos a música juntos, só que com mais harmonia e entrosação do que quando ele dançava com a outra mulher. Fiquei surpresa com o quão bem nós dançamos juntos, uma química imediata.
Quando a música terminou, o rapaz olhou para mim por um segundo e abriu um largo sorriso tão bonito e sensual que me ganhou antes mesmo de fazer a pergunta que eu esperava.



— Meu Deus... Meu Deus! — exclamou o rapaz animado, ele pulou de animação, os olhos castanhos claros arregalados me encarando. — É você, você é perfeita. Caramba! E sabe a coreografia inteira, você é demais!
— Bem, obrigada — agradeci divertida enquanto calçava minhas botas.
— Quer dançar comigo? Diga sim, por favor. Terei que entrar no palco em 20 minutos e ainda não tenho uma parceira, você é perfeita, por favor — implorou ele, jogando-se de joelhos no chão e deslizando até mim, eu ri e puxei o zíper da bota esquerda.
— O que eu vou ganhar com isso? — brinquei tentando esconder a diversão.
— Se conseguirmos o terceiro lugar: 500 libras e uma bolsa de estudos de dois meses na Academia de Dança SaintFor; Segundo lugar: 1000 libras e bolsa de estudos de seis meses na SaintFor; Primeiro lugar: 2.000 libras e uma bolsa de estudos na SaintFor por 1 ano. Isso para cada um de nós. O que me diz? — falou ele rapidamente, os olhos brilhando em expectativa e um meio sorriso dançando em seus lábios finos e delineados.
— É, bom, eu aceito — concordei divertida, ele levantou-se em um salto e me abraçou, levantando-me do chão e me girando pelo salão enquanto eu gargalhava.
— Obrigado, obrigado. Você é demais, nós vamos ganhar, eu sei disso! A propósito, qual seu nome? — perguntou ele ao me pôr no chão.
— Ava, eu sou a Ava Payne, e você?
— Eu sou o Peter Bernardini, muito prazer — ele esticou a mão e eu a apertei.
— Ótimo, então temos 20 minutos...
— Agora 15 — corrigiu ele.
— 15 minutos para ensaiar uma última vez e para nos arrumarmos, certo?
— Certo, vamos lá, Ava, vamos ensaiar e ganhar esse concurso.

Divertido e caloroso, Peter me girou pelo salão mais umas duas vezes antes que eu pudesse me arrumar e vestir a roupa que a outra dançarina iria usar.
Então, quando dei por mim, a música já estava tocando — Thinking Out Loud, Ed Sheeran — e eu já estava caminhando em direção a Peter, que sorria orgulhoso para mim.


Quando as luzes diminuíram a intensidade e a plateia aplaudiu, eu respirei fundo e beijei o peito de Peter, ele riu e me abraçou bem forte. Eu estava orgulhosa, fora a primeira vez que me apresentei para uma platéia tão grande e com um desconhecido.

— Vocês dois tem uma química e tanto, são demais — foi a primeira coisa que nos disseram quando saímos do palco, Peter estava orgulhoso e abraçava minha cintura com força, me guiando para algum lugar que eu não conhecia.
— Vocês são incríveis. Eu não sabia que Thay tinha fugido, Pete — comentou um suposto conhecido de Peter.
— Graças a Deus que ela fugiu — respondeu Peter, sorrindo largamente.

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Peter não parou para conversar com ninguém, me guiou por um longo caminho até chegarmos aos camarins, agora lotados e não mais reservados para ensaios.
Ele deixou que eu me trocasse, então vesti minha roupa rapidamente em um minúsculo banheiro e voltei para encontrá-lo, ele já estava vestindo uma calça jeans surrada e velha, uma camisa preta colada aos seus músculos e um colar de prata em volta do pescoço; e pela primeira vez eu notei o quanto ele era gostoso.
Ele colocou a mochila no ombro e virou-se para mim.

— O resultado sai em 5 minutos, podemos voltar ao palco ou esperar na coxia, o que prefere? — perguntou ele, apontando em direção a saída.



— Acho que a coxia é uma boa ideia — murmurei indiferente, ele concordou e riu. — Por que está rindo? — perguntei divertida, contagiada por sua risada.
— Nada, eu só não acredito que encontrei a parceira perfeita, agora precisamos saber se os juízes também concordam comigo — explicou Peter, ele esticou a mão para mim e eu a segurei firme.

Ele voltou a me guiar por entre os corredores da academia de dança, na coxia estavam reunidos todos os participantes que concorriam conosco, uns três casais, duas dançarinas solo e um dançarino.
Peter cumprimentou todos com um aceno de cabeça e eu o imitei, em seguida fiquei tensa, pois lembrei que precisava da grana a qual estávamos concorrendo, afinal, eu estava na rua, ainda não tinha um lugar se quer para passar a noite e as minhas coisas estavam guardadas no quartinho de limpeza da academia. Mentalmente eu estava orando para que ganhássemos as 2000 libras, sem falar que um ano grátis na academia seria perfeito, pois acho que, quando me expulsou de casa, Liam não estava disposto a continuar pagando as minhas aulas.
Peter passou o braço pelos meus ombros e beijou minha têmpora delicadamente, como se nos conhecêssemos há anos e estivéssemos acostumados a ter tanta intimidade, eu não me incomodei com isso, eu gostei dele desde que o vi dançando pela primeira vez.
Um dos juízes foi até o centro do palco com o microfone em uma das mãos e um envelope lacrado na outra, eu agarrei a mão de Peter, que estava em meu ombro, e apertei seus dedos, nervosa.

— Relaxe — sussurrou Peter em meu ouvido.
— Quando chamados, por favor, subam ao palco — instruiu o juiz. — Mason Hanks, Lauren Palmer e Peter Bernardini e Ava Payne — falou o juiz, Peter quase pulou de alegria e me arrastou até o palco, eu o segui obediente e extasiada.

Depois que nós quatro nos posicionamos ao lado do juiz, ele olhou para a platéia, em seguida olhou para nós, então sorriu e abriu o envelope lentamente.

— 3º lugar: Lauren Palmer, estilo de dança: sapateado — falou o juiz, Lauren deu um passo à frente sorridente e recebeu um cheque de 500 libras e um certificado para dar entrada nos 2 meses de aulas grátis.
— 2º lugar: Peter Bernardini e Ava Payne, estilo de dança: balé contemporâneo — falou o juiz, Peter arregalou os olhos ligeiramente e nós demos um passo à frente.

Recebemos, cada um, um cheque de 1000 libras e um certificado de 6 meses de aulas grátis.
Não foi o prêmio máximo, mas já estava de bom tamanho para mim, com as 1000 libras eu poderia conseguir um apartamento legal no qual eu poderia passar dois meses tranquilamente até conseguir um emprego.

— 1º lugar: Mason Hanks, estilo de dança: jazz lírico — finalizou o juíz.

Peter e eu aguardamos no palco até que Mason recebesse seus prêmios, então nós voltamos para a coxia, Peter estava vermelho e não parecia muito contente.
Nós caminhos em silêncio até a sala em que ensaiamos, Peter se sentou no meio da sala de frente pro espelho, eu coloquei a música que nós dançamos para tocar e me sentei ao lado dele.

— Eu achei uma injustiça, Mason não dançou tão bem quanto a gente — resmungou ele depois de um tempo.









3 comentários:

  1. Mlss n ter comentado antes ta uma loucura aqui em casa mas parece que esse imagine vai ser mais que de mais continuaaAa

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  2. MARAVILHOSO!!!! Continua logo por favor!!

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Sou como uma escritora, lanço o livro para ser comprado;
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Faço isso de coração e amo, mas preciso do seu comentário <3

Por: Milinha Malik. Tecnologia do Blogger.

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