sábado, 20 de abril de 2024


    Nunca fui uma grande fã da família real britânica. Na verdade, pouco sabia sobre eles quando morava em Budapeste; eram apenas uma família estrangeira muito conhecida e admirada pelos outros, que pouco me interessava.
    Isso mudou quando a doce e agitada Londres me adotou com tanto carinho há exatos 6 anos. A Inglaterra venera a família real, obviamente, e com o tempo eu fui desenvolvendo um apreço e uma admiração muito grande por cada um dos membros daquela influente família.
Londres me acolheu, me amou e me deu uma vida muito melhor do que a que eu costumava ter, nada mais justo que eu retribuir todo o amor, inclusive para com a família real, já que a Inglaterra e a Monarquia vêm no mesmo pacote.
    Lembro-me perfeitamente de minha chegada à cidade, do medo que eu sentia e da confusão de estar em um mundo completamente diferente do qual eu estava acostumada desde que nasci. O aeroporto Heathrow estava lotado de ingleses e turistas, era muito fácil identificar qual era qual, já que os ingleses têm uma aparência mais séria e parecem sempre estar com pressa, inclusive alguns são grosseiros ao pedir-lhes informação, aprendi do pior jeito a pedir informações somente a guardas ou funcionários de qualquer ambiente. Eu havia viajado com uma poupança acumulada ao longo dos anos, tinha o suficiente para as passagens e para sobreviver por alguns meses sem morrer de fome, mas precisava arranjar um emprego o quanto antes. Com uma destrambelhação já natural de mim, peguei um táxi do aeroporto até a casa em que moraria, que pertencia a duas amigas, Nikki e Amanda.
        Nikki foi uma grande amiga que conheci através da internet aos 16 anos, ela me deu força para sair de casa e ir morar em Londres, onde ela tinha uma casa que dividia com outra amiga, Amanda, e ambas abriram um espaço para mim na casa delas. Nikki me ajudou muito desde o começo, a casa dela tinha apenas dois quartos, mas ela transformou a sala de jantar em outro quarto apenas para que eu pudesse viver lá com elas. Por ser em Notting Hill, achei que o aluguel do quarto me custaria os olhos da cara, mas a minha anjo da guarda me fez um preço muito camarada para morar lá, Nikki definitivamente era a minha fada madrinha e eu devo muito a ela desde que a conheci.
    Nós moramos na famosa rua Portobello Road, a mesma do filme "Um Lugar Chamado Notting Hill", estrelado por Julia Roberts e Hugh Grant. Moramos em uma adorável casa pequena azul de três andares, nos andares de cima há dois quartos e dois banheiro, o quarto do segundo andar é de Nikki, a dona obviamente, e o quarto do terceiro andar pertence a Amanda, o primeiro andar é constituído por uma salinha de estar aconchegante, uma cozinha apertada, mas muito prática, banheiro junto com lavanderia (que é uma máquina de lavar e outra de secar), e uma sala de jantar que foi transformada em mais um quarto. Eu moro no quarto que antes era uma sala de jantar, é espaçoso o suficiente e perto do banheiro, o que é uma grande vantagem, assim ninguém precisa esperar a outra terminar de usar o banheiro. Apesar da casa ter três andares, ela é bem apertada, por isso os andares de cima são apenas quartos, não há espaço para muito mais que isso.
    A minha convivência com as garotas é a melhor possível, somos como três irmãs morando juntas, dividimos tudo, desde as contas até as roupas, damos privacidade umas às outras e somos livres pra trazer qualquer pessoa para casa, coisa que eu não poderia fazer na minha própria casa em Budapeste. O quarto membro da família é o Ezra, namorado da Nikki, ele é outro anjo da guarda na minha vida, um irmão que nunca tive, ele conseguiu um ótimo emprego para mim na cidade e desde então nos tornamos bons amigos, irmãos mesmo.
    O meu primeiro emprego ao chegar na cidade foi em um Mc Donald's horroroso que me pagava muito mal, mas Ezra foi o anjo que me conseguiu uma vaga no restaurante em que ele trabalha, que é onde trabalho há 4 anos. The Orangery Restaurant é um restaurante que fica anexo ao Palácio de Kensington, onde mora o herdeiro do trono, o príncipe Sebastian, mas vê-lo é impossível, já que a parte que ele ocupa é protegida por guardas reais 24 horas por dia. O Orangery fica de frente para o jardim de entrada de Kensington e é uma linda visão para se ter diariamente. Além da paisagem, de ser tão perto do príncipe e das ótimas amizades que fiz, fica somente a 25 minutos a pé da minha casa.
    Ser garçonete do Orangery é um trabalho puxado, mas também é muito lucrativo e proporciona uma interação gostosa com turistas e londrinos que aparecem a qualquer hora do dia. Toda manhã eu saio de casa às 9 da manhã, tomo café em uma cafeteria pequena e aconchegante perto de casa, que tem um preço bem em conta, e então sigo para o palácio, trabalho na Orangery das 10 da manhã às 18 da noite, tenho um intervalo de 30 minutos às 11:30, que gasto na cafeteria ao lado do restaurante geralmente com alguns amigos do trabalho, e folgo aos finais de semana. É o trabalho dos sonhos para mim.
    Sair da minha cidade aos 18 anos e abandonar a minha casa foi uma das decisões mais corajosas que já tive que tomar em toda a minha vida, mas necessária. Sim, eu tinha uma família que possuía uma grande fortuna. Sim, eu tinha uma vida muito confortável, se é o que acham. Mas além de todos os privilégios que eu tinha, as obrigações que vinham junto eram sufocantes, se eu ficasse lá, eu teria que me casar com um sujeito escolhido pelos meus pais. Então eu fui embora sem olhar para trás.
    Nunca fui burra, desde cedo pedi ajuda de uma tia para abrir uma conta poupança para mim e todo dinheiro que eu ganhava colocava nela, juntei o suficiente para pagar a passagem e para me manter por alguns meses caso não conseguisse um emprego. Pois desde sempre eu soube o meu futuro, ou obedecia às regras do meu pai, ou era colocada para fora de casa. Aguentei isso até os 18 anos, a idade em que eles decidiram que eu precisava me casar e escolheram um investidor da empresa que meu pai é CEO, um velho com o dobro da minha idade, para me desposar.
    Durante toda a minha vida eu tive que agir como um robozinho para agradar o senhor todo-poderoso Otto Molnar, dono de uma cadeia de empresas muito importante em Budapeste e rei dos congelados, literalmente. Uma de suas empresas é fabricante de comida congelada, a melhor e mais popular do país.
    A rainha Nora Molnar, minha mãe, passa longe de ser uma esposa-troféu, ela é o braço direito do meu pai e também possui algumas empresas bem-sucedidas, desde salões de beleza e spa, à fábricas têxteis e ateliês espalhados pela capital. Minha família é uma das mais ricas e importantes da Hungria e isso sempre teve um peso muito grande sobre mim, filha única e herdeira do império Molnar. Agora percebo que viver com eles era quase como ser membro da família real, eu precisava sempre estar atenta ao meu modo de agir, de vestir e nunca poderia ter como companhia pessoas que não foram previamente aprovadas pelo meu pai.
    Era uma completa tortura, eu estudei a vida inteira em casa, não tive amigos, nem podia se quer sonhar em me relacionar com rapazes, pois fui prometida desde cedo ao investidor de uma das empresas do meu pai. Eu era um passarinho preso em uma gaiola de ouro até completar os meus 16 anos, que foi quando me rebelei e comecei a mostrar ao meu pai que eu não seria mais um robô feito sob medida para ele. E aos 18 eu finalmente pude abandonar o ninho e começar do zero, ser finalmente uma pessoa normal.
    Londres me deu uma segunda chance, me deu amigos que agora são minha família, me deu uma moradia e o amor que eu nunca tive.
    Logo no primeiro ano morando aqui eu já tive que aprender como funcionava a família real, já que todos os ingleses adoravam falar sobre eles e eu precisava estar por dentro do assunto para que não parecesse deslocada ou até mesmo desrespeitosa para com meus anfitriões.
    A rainha Francesca, que está atualmente no trono, tem seus bem vividos 95 anos, é uma senhora viúva do príncipe consorte Thomas, que morreu há 20 anos de um infarto agudo do miocárdio. Desde a morte de seu marido Francesca tem vivido em luto, sempre trazendo em suas roupas ou acessórios algum tom de preto, para simbolizar seu luto. A rainha é mãe do príncipe George, o primeiro na linha de sucessão ao trono, e da princesa Victória. Ela vive atualmente no palácio de Buckingham, em Westminster.
    O príncipe George, primogênito da rainha, casou-se aos 24 anos com Meredith Brown, uma plebeia que na época tinha 20 anos e logo se tornou princesa. O casal teve seu primogênito, Ethan, alguns anos após o casamento. Sebastian nasceu 10 anos depois, sendo seguido com um intervalo de 3 anos pelos gêmeos Peter e Louise. Atualmente o príncipe George tem 69 anos e aguarda a sua vez de subir ao trono. Ele e a esposa moram atualmente em Clarence House, que é vinculado ao palácio de St. James, um dos mais antigos da Inglaterra e atual centro administrativo da realeza britânica.
    O príncipe Ethan seria o segundo na linha de sucessão ao trono, se não fosse por uma fatídica tragédia que tirou a vida do futuro rei da Inglaterra e de sua noiva, Millene Davidson. Há 10 anos, durante uma viagem noturna de volta à Londres, as pistas lisas de um inverno rigoroso causaram o capotamento do carro em que o príncipe e a noiva, Millene, estavam resultando na morte de ambos, que sem herdeiros passaram a sucessão para Sebastian. Sebastian tinha apenas 18 anos quando o irmão faleceu.
    O segundo lugar na sucessão ao trono da Inglaterra é do charmoso príncipe Sebastian, que já tem 28 anos e está solteiro, aparentemente sem pressa de buscar uma esposa e filhos para dar continuidade a linhagem real. Ele vive em um dos apartamentos reais no palácio de Kensington e quando se casar ocupará o apartamento oficial que fora da irmã da rainha Francesca, princesa Judith, também no palácio de Kensington
    Os gêmeos Peter e Louise, de 25 anos, ficam com o terceiro e quarto lugar respectivamente na linha de sucessão, pelo menos até Sebastian ter filhos, então os lugares pertencerão aos filhos de Sebastian. Peter está atualmente servindo ao exército britânico e Louise se formando na prestigiada faculdade de Cambridge.
    É constante a presença de ao menos um membro da família real nos eventos da cidade, o que aparece com mais frequência é Sebastian, mais amado principalmente pelas mulheres do mundo todo. Príncipe Sebastian é carismático e absolutamente lindo, um cavalheiro distinto e muito educado, é impossível não simpatizar com o rapaz. Confesso que eu só compareço aos eventos para vê-lo, mesmo que de longe, pois ele é uma obra de arte viva com aqueles olhos claros e os cabelos negros, ele tem um porte de homem importante e o ar de menino malvado.
    Lembro-me da primeira vez que o vi na tevê no enterro de seu irmão e cunhada, eu tinha já os meus 14 anos e o príncipe tinha 18, ele já tinha o porte de homem importante mesmo tão jovem.

– Corra, querida, vai perder os jovens príncipes – gritou Dorothy, a minha babá que sempre estava comigo.
– É triste demais, prefiro não ver, Doty – murmurei, mas mesmo assim corri até a cozinha para ter uma bela visão do príncipe Sebastian na tevê de 55 polegadas presa na parede, ele era uma bela visão e me partiu o coração vê-lo com um olhar tão triste.
– Pobrezinhos, deve ser horrível perder um irmão tão jovem e de uma forma tão repentina – falou Doty e eu concordei com um aceno de cabeça, sentia a tristeza de toda a família e não conseguia imaginar como era sentir-se assim e ainda ter que aparecer na televisão para o mundo inteiro ver.
– O pior de tudo é ter que compartilhar com o mundo cada segundo de suas vidas, dá pra imaginar como foi pra eles verem as fotos do príncipe Ethan e de Millene no local do acidente, eu fiquei com o estômago embrulhado – falei baixinho, concentrada em olhar os príncipes Sebastian e Peter na tela da tevê.
– É, essa é a parte ruim de ser tão famoso, o mundo sabe de cada passo que você dá, querida. Nada no mundo paga o preço da privacidade, que é uma coisa que essas pessoas não possuem desde que nasceram.

    Naquele dia eu aprendi duas coisas: que ser famoso é uma merda e que o príncipe Sebastian era um homão da porra.
    Daquele dia em diante eu não o via muito, mas só foi eu me mudar para Londres que ele se tornou como um ídolo teen, sempre que possível eu ia a eventos ou assistia a tevê somente para vê-lo.


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Por: Milinha Malik. Tecnologia do Blogger.

Um Amor Real

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